domingo, dezembro 22, 2024
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Lucro da Vale dá salto de 662% e alcança R$40,095 bilhões no 2º trimestre

A mineradora Vale divulgou na noite de ontem (28) seu relatório financeiro apontando um lucro líquido de US$ 7,586 bilhões no segundo trimestre de 2021. O documento também reúne informações do processo de reparação das tragédias de Brumadinho (MG) e Mariana (MG), entre elas, novas metas envolvendo a reconstrução dos distrito de Bento Rodrigues e Paracatu.

Convertido em reais, o lucro líquido da Vale entre abril e junho foi de R$ 40,095 bilhões. Trata-se de uma alta de 662% na comparação com o mesmo período do ano passado. No segundo trimestre de 2020, o mercado mineral sofreu os impactos iniciais da pandemia de covid-19, assim como outros setores.

No consolidado do primeiro semestre de 2021, a Vale lucrou US$ 13,132 bilhões, 964% a mais que no primeiro semestre de 2020. O relatório também indica um recorde no valor de Ebitda ajustado proforma, que apura o lucro operacional subtraído dos juros, impostos, depreciação e amortização. A Vale não inclui nesse cálculo, por exemplo, despesas decorrentes da pandemia de covid-19 e da reparação da tragédia de Brumadinho. Foi reportado o montante de US$ 11,239 bilhões.

Segundo o balanço da mineradora, o bom desempenho se deve “aos maiores preços realizados e volumes de venda de minério de ferro e pelotas, parcialmente compensados por certos custos e despesas que são vinculados ao preço do minério de ferro como, por exemplo, compras de terceiros e royalties, elevados custos de frete e maiores custos de manutenção e serviços”.

Entre abril e junho, houve uma valorização de comodities. Os finos de minério, por exemplo, tiveram preço médio de US$ 182,80 por tonelada, US$ 27,30 a mais que no trimestre anterior.

A dívida líquida expandida da Vale é atualmente de US$ 11,448 bilhões. Este indicador, que considera o endividamento líquido mais algumas obrigações como as provisões para a reparação da tragédia de Brumadinho, teve um leve aumento frente aos US$ 10,712 bilhões do fim do primeiro trimestre desse ano.

Reconstrução de comunidades

O relatório reúne ainda informações sobre os processos de reparação das duas tragédias ocorridas nos últimos anos em Minas Gerais.

No município de Mariana, o rompimento da uma barragem da mineradora Samarco, joint-venture da Vale e da BHP Billiton, causou 19 mortes em novembro de 2015 e gerou uma devastação ambiental que atingiu diversas cidades mineiras e capixabas situadas na bacia do Rio Doce.

Cerca de três anos depois, um episódio similar ocorreu em Brumadinho. Após a ruptura de uma estrutura da Vale em janeiro de 2019, uma avalanche de rejeitos tirou a vida de 270 pessoas e alcançou o Rio Paraopeba, deixando um rastro de destruição no caminho.

O balanço apresenta novas metas para a reconstrução dos dois distritos na zona rural de Mariana que foram arrasados em 2015. “A Fundação Renova espera concluir ou entregar até dezembro de 2021: em Bento Rodrigues, um total de 79 casas e 15 terrenos no reassentamento; em Paracatu de Baixo, 9 terrenos no reassentamento, além de reassentamento familiar com 9 casas e 2 terrenos”, informa a mineradora.

A Fundação Renova foi criada conforme o acordo de reparação firmado em março de 2016 entre a Samarco, a Vale, a BHP Billiton, a União e os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo. Foram negociados 42 programas que envolvem, por exemplo, a restauração florestal, a qualidade das águas, o manejo dos rejeitos, a indenização dos atingidos e a reconstrução das comunidades. As três mineradoras devem financiar todas as medidas previstas, enquanto a execução é de responsabilidade da Fundação Renova.

Passados quase seis anos da tragédia, as obras das novas comunidades de Bento Rodrigues e de Paracatu são ainda um dos principais gargalos do processo reparatório. Desde 2015, as famílias vivem em imóveis alugados pela Fundação Renova. Morando geralmente no centro de Mariana ou de municípios vizinhos como Ponte Nova e Barra Longa, elas possuem uma rotina completamente distinta daquela que possuíam nas comunidades da zona rural. Os terrenos onde estão sendo reerguidos os distritos foram escolhidos pelos atingidos. Mas a maioria das casas, que deveriam ter sido todas entregues em 2018 e 2019, conforme o primeiro cronograma negociado, ainda não saiu do papel.

Multa

Com os atrasos, uma decisão judicial fixou o prazo de 27 de agosto de 2020. Em função de fatores que provocaram mudanças o projeto, uma nova sentença prorrogou essa data para 27 de fevereiro de 2021, o que não foi respeitado. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) cobra judicialmente uma multa de R$ 1 milhão por dia de atraso com base nessa última data. Em março, segundo dados divulgados pela Fundação Renova, apenas sete das 306 moradias previstas estavam concluídas.

Em fevereiro deste ano, um relatório elencando todos os percalços no processo de reassentamento foi divulgado pela Cáritas, entidade que presta assessoria técnica aos atingidos. “Diante da espera de mais de cinco anos pela reparação, é possível questionar o limite do tempo de atraso e ainda que prevista a multa pela mora, é preciso considerar que o prazo foi alterado três vezes em benefício das mineradoras, enquanto as pessoas atingidas têm sofrido prejuízos decorrentes da espera, inclusive danos ao projeto de vida”, registra o documento.

Conforme o balanço da Vale, a reconstrução das comunidades, junto com outras medidas reparatórias, tem demandado novas provisões. A pandemia de covid-19 é mencionada como justificativa para os atrasos nas obras.

“Devido a estouros orçamentários nas obras de reassentamento, principalmente devido a atrasos relacionados à covid-19, e devido à inclusão de novas comunidades e categorias (empresários do turismo, hotéis, pousadas, bares e restaurantes informais, comerciantes informais de areia e argila, entre outros) no programa de indenização, a Vale registrou uma provisão adicional de US$ 560 milhões relacionada aos desembolsos previstos para apoiar a Samarco e a Fundação Renova. Até 30 de junho de 2021, foram desembolsados pela Fundação Renova R$ 14,5 bilhões na reparação de Mariana, sendo R$ 4,7 bilhões custeados pela Samarco e R$ 9,8 bilhões custeados por Vale e BHP em partes iguais”, registra o relatório da Vale.

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