Por Joana Lopo
Como já esperado pelo mercado e especialistas, a Selic (taxa básica de juros da economia) subiu pela quarta vez, em 1 ponto percentual, saindo de 4,25% para 5,25%. Essa foi a maior elevação, em 18 anos, feita pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que sinaliza uma manutenção de alta até o final do ano. A previsão entre os economistas, portanto, é de que a taxa feche em torno dos 7% em 2021.
A Selic, como se sabe, tem a função de frear a inflação. É uma forma de fazer a população conter seus gastos em função do crédito mais caro. Então as mexidas na taxa, tanto para mais quanto para menos, impactam também na rentabilidade das aplicações financeiras. Isso faz com que os novatos no mercado de investimentos, assim como os investidores menos atentos fiquem na dúvida sobre investir ou não em momento de alta.
A poupança, por exemplo, vai sair um pouco do paradeiro de rendimento na casa dos 2,98% (média) ao ano e vai para 3,68% anualmente, como indica pesquisa realizada pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac). Embora não seja um rendimento tão significativo, as perspectivas para os investidores são boas.
Investimentos como o Tesouro Selic, os de renda fixa, os atrelados ao CDI e aos que se ganha com elevação do custo do crédito, como fundos de crédito, a exemplo do Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), e outros, são os mais indicados, conforme especialistas, em momentos de alta da taxa.
Rentabilidade
Cada vez mais atrativos, os minibancos também geram uma maior rentabilidade para seus clientes com a alta da Selic. Essas fintechs capacitam empresas com faturamento mensal a partir de R$ 5 milhões a terem seus próprios braços financeiros oferecendo operações de crédito, como antecipação de recebíveis, empréstimos e financiamentos para seus próprios fornecedores e clientes.
“Conforme a Selic aumenta, a fintech faz o reajuste dos juros, o que gera uma rentabilidade maior para o cliente. O Bankme, por exemplo, rentabiliza com a cobrança dos juros, ou seja, ele é um dos players do mercado que é impactado positivamente pelo aumento da Selic. Antes do aumento, cobrando uma taxa média de 2,3% ao mês de juros, o mini banco conseguia um retorno de 1,7% líquido. Agora, com este aumento, nós acreditamos que isso deve chegar a 1,9% de rentabilidade líquida ao mês”, avalia o CEO da Bankme, Thiago Eik.
O que dizem os especialistas
Economista Thobias Silva – “Mas para quem pensa em Bolsa, não é tão bom, não. Essa alta da Selic encarece o custo do crédito e, com isso, as empresas mais alavancadas (endividadas) sofrem mais. Mas os investimentos ligados ao CDI, e ao aumento dos juros, como os fundos de crédito e alguns títulos do tesouro direto pós fixados são boas opções quando a taxa está alta. Mas é bom lembrar que rentabilidade e segurança geralmente são opostos. Quem deseja arriscar mais, espera ter maior retorno e vice-versa”.
Analista de ações e consultor financeiro do Kinvo, Beto Assad – “Melhor investimento é um conceito muito relativo para cada tipo de investidor, pois mesmo com a alta da Selic, investidores mais agressivos provavelmente continuarão com posições em renda variável. Mas quando olhamos a ótica exclusivamente da Selic, todos os investimentos que possuem a taxa como indexador ficam mais rentáveis, mas não necessariamente mais atraentes. Isso porque a inflação atual no Brasil ainda está maior do que a Selic. Logo, para os mais conservadores, títulos atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA+, ainda são uma boa aposta para um prazo mais longo. Todavia, com a expectativa de mais altas para a Selic e uma possível estabilização da inflação no país, títulos como o Tesouro Selic e outros produtos privados indexados ao CDI tendem a ganhar mais atratividade, como CDBs, debêntures e letras de crédito.
Vice-presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), Gustavo Casseb Pessoti – “A Selic é taxa de referência para todo mercado financeiro nacional. Quando o BC decide elevar a taxa de juros, automaticamente ele vai pelo cenário macroeconômico do país, como o risco inflacionário, necessidade de atração cambial, ou seja, há um por que para essa elevação. O BC está realmente preocupado com a alta dos preços, então a primeira pergunta de qualquer investidor é: quando fizer o aporte a taxa de retorno será maior do que a inflação? Essa é a grande pergunta! Muitos dos correntistas da poupança, por exemplo, não sabem que ela sequer paga a taxa inflacionária do país. A elevação da Selic, nesse caso, melhora o rendimento da poupança, o que é muito bom porque ela sempre foi a queridinha. Mas há muitos desafios pela frente. O nível de endividamento do setor público tem aumentado muito ao longo dos últimos tempos. Isso gera um pouco de insegurança, por exemplo, em relação ao título público, que acaba sendo uma aplicação sempre muito bacana quando a Selic aumenta”.
Especialista em renda fixa da Messem Investimentos, Felipe Chamaniego – “Normalmente, os ativos mais longo possuem maior rentabilidade, pois o investidor abre mão do seu dinheiro por um período maior de tempo e deve ser melhor remunerado por isso. Os ativos que possuem proteção do FGC, CDB, LCI, LCA, por exemplo, são seguros e conseguem entregar uma boa rentabilidade. O ideal é procurar um profissional e identificar o seu perfil de investidor, para entender qual produto de investimento é o mais adequado para a seu apetite ao risco. A dica é sempre diversificar. Mesmo com o aumento da taxa básica de juros, o mercado brasileiro sofre muito com oscilações e, portanto, nunca haverá um único investimento que garante retorno ótimo. Por isso, uma carteira bem diversificada garante o melhor retorno no longo prazo”.