Por Joana Lopo
Diretamente impactada pela alta do dólar, a fabricante de biscoitos e massas secas M. Dias Branco (MDIA3) terá que reajustar, mais uma vez, os preços dos seus produtos. Em entrevista concedida ao programa Conversa Aberta, do canal Genial Investimentos, no YouTube, o diretor executivo de relações com investidores e novos negócios, Fábio Cefaly, disse que o desemprego elevado, inflação alta e, principalmente, o cenário de custos elevados, em função da desvalorização do real e das commodities que subiram em dólar, impulsionam a alta de preços, mas não revelou quando ou em qual margem percentual será o reajuste.
“O impacto do câmbio, com as seguidas altas, considerando que 60% dos custos da M.Dias são dolarizados, é significante, sim. Mas não repassaremos esses custos diretamente ao consumidor. Essa não pode ser a única alavanca nossa, precisamos mexer em outros pontos para ajustar nossas margens”, garante Cefaly.
Isso porque, no segundo trimestre, o reajuste de preço fez a empresa perder fatia de mercado e pesou na queda do lucro em 6,6%. “É normal perder um pouco de volume quando se faz reajuste de preço. Mas perdemos em participação de mercado considerando 12 meses. Quando se olha em curto prazo, do final do primeiro para o final do segundo trimestre, recuperamos um pouco de market share, tanto em massas quanto em biscoitos”, avalia.
Conforme o diretor, nem todos os produtos sofrerão o mesmo reajuste. Como o processo de precificação é complexo e envolve muitas variantes, a exemplo de capacidade de renda, demanda geográfica, entre outros, a companhia vai avaliar a demanda local, lojas e itens de acordo com as necessidades.
Outra ação para recuperar as margens da empresa será a aposta nos lançamentos. Nesse ano ainda, a Piraquê, que representa mais de 10% da receita da M. Dias, será uma das meninas dos olhos. “Esse produto foi um ator de inovação, lançamos muitos produtos inovadores. Inclusive fizemos parceria com Ambev, no início de 2021, para distribuir alguns itens da Piraquê”, conta.
Emissão de Certificados
Como o endividamento da empresa é basicamente em moeda brasileira, segundo Cefaly, foi necessário fazer emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), classificados como “Títulos Verdes”, em uma transação inédita para a empresa, em março deste ano. O valor foi de R$ 811,6 milhões e com isso, a M. Dias conseguiu alongar o prazo de pagamento e reduzir o custo da dívida. “Foi o primeiro CRA da gente, e logo com selo verde. A alavancagem hoje é de 0,5 da dívida líquida pelo Ebitda. Agora é apostar no crescimento”, diz.
Para isso, o dinheiro do CRA será gasto em investimentos na via orgânica, programa de recompra e dividendos – empresa aumentou o payout (fração do lucro líquido que uma empresa paga aos seus acionistas), que no ano passado era de 40% e este ano foi para 60%. “O foco principal é investir em crescimento. Sobre fusões e aquisições, a ambição é ser uma grande empresa de alimentos no Brasil e fora dele também, com as exportações, que começaram em 2015 e hoje representam 5% das vendas. E não descartamos aquisição ou parceria fora do país. Hoje, já exportamos para a África, América do Sul, América Central e EUA”, conta.
A M. Dias Branco também renovou o projeto de recompra de ações (10%), embora Cefaly diga não considerar o reflexo delas no potencial crescimento da empresa. “Abrimos o programa de recompra para atender a uma necessidade interna, que é um programa de longo prazo para uma parte dos colaboradores”, esclarece.