quinta-feira, novembro 21, 2024
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Arrecadação de direitos musicais cresce 7,6% e gera € 11,7 bi em 2023

A arrecadação de direitos autorais musicais cresceu 7,6% no mundo em 2023, somando € 11,7 bilhões, ou quase R$ 72 bilhões pelo câmbio atual. O dado está no mais recente Relatório de Arrecadação Global difundido nesta quinta-feira (24), em Paris, pela Cisac – Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores. O Brasil teve um crescimento de 23,5% na arrecadação musical em euros e se mantém na 12ª posição entre os principais mercados mundiais de música.

Globalmente, o digital continua a se consolidar como principal fonte de receitas da indústria musical, com um salto de 9,6% em um ano e € 4,53 bilhões (R$ 27,82 bilhões) em arrecadação de direitos de execução pública. Este segmento, que abarca o streaming de áudio e de vídeo, foi o responsável por nada menos que 87,2% do crescimento da arrecadação de direitos autorais musicais desde 2019, número que traduz com exatidão sua importância vital.

Somando-se todos os repertórios que a Cisac mede (além da música, inclui-se o audiovisual, literatura, arte dramática e artes visuais), a América Latina liderou com folga o crescimento no ano passado: alta de 29,2% na arrecadação, bem acima das expansões de Europa (+8,1%), Estados Unidos & Canadá (+7,2%), África (+3,2%) e Ásia-Pacífico (-0,8%). O total arrecadado entre todos os repertórios em 2023 foi de € 13,09 bilhões (R$ 80,54 bilhões).

O Brasil, com uma alta expressiva na arrecadação, ficou em 12º lugar entre os maiores mercados de direitos autorais musicais, líder na América Latina, com € 224 milhões (R$ 1,375 bilhão, pelo câmbio de hoje) gerados. Já quando são somados audiovisual, dramático, literário e artes visuais — todos eles, segmentos sem um verdadeiro sistema de gestão coletiva por aqui —, o Brasil perdeu a liderança regional para o México, onde foram gerados € 226 milhões (R$ 1,387 bilhão).

Entre os muitos destaques positivos mundialmente, a música experimentou crescimentos nos seguintes segmentos de arrecadação de direitos autorais:

  • Digital: +9,6%, com € 4,53 bilhões arrecadados
  • Ao vivo e música de fundo (usuários gerais): +21,8%, com € 3,063 bilhões arrecadados
  • Sincronização: +44,4%, com € 52 milhões gerados
  • Mídias físicas (CD, DVD): +6%, com € 380 milhões gerados
  • Entre os segmentos que tiveram queda está TV & Rádio. Esse segmento vem perdendo espaço para o digital por apresentar crescimentos menores. Em 2023, houve queda 5,3%, depois de uma alta de mais de 10% no ano anterior. A arrecadação total, porém, ainda foi muito significativa: € 3,375 bilhões.

Para além desse dado, o salto de quase um bilhão de euros (coisa de R$ 6 bilhões) na arrecadação de direitos de execução pública musical, de um ano para outro, é uma excelente notícia.

“Há muitas boas notícias nestas páginas. As arrecadações pelas sociedades membros da Cisac estão crescendo de maneira saudável; as organizações de gestão coletiva estão atendendo seus membros de forma mais eficiente, especialmente no mercado digital; e o sistema global de gestão coletiva, apesar dos muitos desafios que enfrenta, está provando seu valor duradouro para os criadores que representa”, disse Björn Ulvaeus, presidente da Cisac, citando o grande desafio do mercado hoje: “A IA está transformando nosso cenário, e o seu impacto ainda é desconhecido. Ferramentas de IA generativa estão produzindo conteúdos que são baseados nas obras dos criadores humanos e, às vezes, correm o risco de substituí-los. Sempre acreditei que só podemos abraçar novas tecnologias, e não tentar impedi-las – mas há uma ressalva sólida: isso nunca deve ocorrer às custas de comprometer os direitos autorais e os direitos humanos.”

Presidente do Conselho de Administração da Cisac, e diretor-executivo da UBC, Marcelo Castello Branco também cita a IA e seus desafios no relatório.

“A revolução que a IA está propondo freneticamente exigirá ações e reações que definirão nosso futuro ecossistema criativo de maneiras que não podemos prever. À medida que chegamos ao final do primeiro quarto deste século, haverá mais perguntas do que respostas. No entanto, o que é indiscutível é que a propriedade intelectual nunca esteve tão no centro de nossa existência”, afirmou Castello Branco.

Ele também lembrou a importância de exigir mais transparência às plataformas de streaming no que se refere aos pagamentos aos titulares de direitos.

“Uma necessidade crítica para nossa comunidade deve ser a melhoria da transparência em nossos mercados. Por exemplo, é claro que os modelos de precificação das plataformas digitais são difíceis de acompanhar e complicados de explicar. As muitas discussões sobre seus algoritmos permanecem sem resolução. À medida que essas plataformas amadurecem, devemos exigir mais transparência e responsabilidade, em vez de simplesmente esperar que a escalabilidade resolva os desafios da remuneração justa”, descreveu o executivo, que celebrou o crescimento de 114,6% nas receitas globais de todos os repertórios latino-americanas nos últimos dois anos.

Igualmente otimista foi o olhar lançado por Gadi Oron, diretor-geral da Cisac, sobre o conjunto dos dados trazidos nesta nova edição do relatório anual. Apesar dos desafios da IA, da necessidade de melhores pagamentos no streaming e das quedas em segmentos importantes como TV & Digital, o panorama à frente é promissor, com todas as regiões e a maior parte dos repertórios apresentando crescimentos e boas possibilidades de uma expansão sustentada.

“Este relatório oferece uma visão única do valor econômico e cultural da nossa comunidade global da Cisac. Apesar dos desafios que enfrentamos, estou otimista em relação ao nosso futuro. As arrecadações estão crescendo em todos os setores e em todas as regiões, sedimentando a força de nossas sociedades e do sistema de gestão coletiva”, ele conclui.

Os 50 maiores mercados de execução pública de música, com valores totais em milhões de euros, percentual de crescimento e participação global. Reprodução Relatório Cisac

Este Relatório Global de Arrecadação da Cisac 2024 mostra um bem-sucedido desempenho da rede global da Cisac, e devemos reservar um momento para celebrar nossas conquistas. No entanto, é essencial que elevemos ainda mais nossas ambições. Precisamos rejeitar firmemente a ideia de que a criação — seja na música, audiovisual, artes visuais, literatura ou teatro — é meramente uma mercadoria ou uma ferramenta na economia da atenção.

Nosso ambiente de mercado está cheio de incertezas e, embora nos orgulhemos do crescimento atual, nossa prioridade agora precisa ser o crescimento sustentável a longo prazo para garantir os meios de subsistência dos criadores que representamos. Isso levanta questões críticas que, com a ajuda da Cisac, nossas sociedades precisam abordar.

Como podemos garantir o crescimento a longo prazo do conteúdo criativo? Como podemos nos adaptar sem comprometer os valores que orgulhosamente defendemos para os mais de 5 milhões de criadores em todo o mundo? Como podemos impulsionar o crescimento global, ao mesmo tempo em que promovemos as culturas locais e o intercâmbio cultural? Como as Organizações de Gestão Coletiva (OGCs) podem navegar nas complexidades das tomadas de decisão que impactam os meios de subsistência e a sustentabilidade dos criadores? Com o aumento das fusões e aquisições que afetam nosso setor, e fundos privados multinacionais com recursos financeiros aparentemente ilimitados, como podemos orientar nossos membros com conhecimento, fatos e percepções, garantindo que estejam cientes tanto dos riscos quanto das oportunidades?

Uma necessidade vital para nossa comunidade é a melhoria da transparência em nossos mercados. Por exemplo, é claro que os modelos de precificação das plataformas digitais são difíceis de seguir e complicados de explicar. As muitas discussões sobre seus algoritmos permanecem sem solução. À medida que essas plataformas amadurecem, devemos exigir mais transparência e responsabilidade, em vez de simplesmente esperar que a escalabilidade resolva os desafios da remuneração justa.

Também precisamos olhar incansavelmente para o futuro. Como sociedades que gerenciam repertórios diversos, não devemos subestimar a importância de fontes alternativas de arrecadação, que atualmente estão ofuscadas pelo crescimento digital. A história provou que a dependência excessiva de uma única fonte de renda pode ser arriscada. Promover a diversificação e aprimorar todas as vias de arrecadação — algo evidenciado pelo notável crescimento de 22% nos shows e apresentações ao vivo — é crucial para garantir que exploremos e cobremos totalmente o uso dos repertórios dos nossos criadores.

Outro destaque importante deste relatório é a expansão da América Latina, mostrando um crescimento impressionante de 114,6% nos últimos dois anos. O que mais podemos fazer para garantir que a região da Ásia-Pacífico mantenha seu impulso de crescimento e que a África aumente suas arrecadações de maneira condizente com a riqueza de sua cultura e seu potencial?

A revolução que a IA está propondo freneticamente exigirá ações e reações que definirão nosso futuro ecossistema criativo de maneiras que não podemos prever.

À medida que chegamos ao fim do primeiro quarto deste século, haverá mais perguntas do que respostas. No entanto, o que é indiscutível é que a propriedade intelectual nunca esteve tão no centro de nossa existência.

Incentivo a todos a olharem além dos números e trabalharem coletivamente para melhor servir nossos membros e apoiar o fluxo de suas criações.

UBC

A União Brasileira de Compositores – UBC é uma associação sem fins lucrativos, dirigida por autores, que tem como objetivo principal a defesa e a promoção dos interesses dos titulares de direitos autorais de músicas e a distribuição dos rendimentos gerados pela utilização das mesmas, bem como o desenvolvimento cultural. A UBC foi fundada em 1942 por autores e atua até hoje com dinamismo, excelência em tecnologia da informação e transparência, representando mais de 70 mil associados, entre autores, intérpretes, músicos, editoras e gravadoras.

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