Após anunciar a suspensão dos atendimentos de urgência e emergência para usuários do Planserv, o Hospital da Bahia (HB) se viu envolvido, nos últimos dias, em uma enxurrada de notícias especulativas e até fantasiosas. Um site de Salvador chegou a afirmar que a unidade de saúde estava iniciando “um suposto processo de encerramento das atividades”, o que já foi negado pelo hospital. A notícia mais recente, e que também já foi negada, é que a Rede D’Or – gigante no setor hospitalar e com forte presença na Bahia – estaria negociando a compra do HB. Vamos tentar entender melhor essa história.
O Hospital da Bahia, que fica na Avenida Magalhães Neto, foi comprado pela Dasa, há pouco mais de três anos, por R$ 850 milhões. De lá pra cá muita coisa mudou: com dívidas que chegam a quase R$10 bilhões, a Dasa sentiu as consequências do crescimento acelererado e tem buscado alternativas para se reestruturar, reanimar a operação e reduzir a alavancagem.
Em junho passado, a empresa fechou um acordo com a Amil para a criação de uma das maiores redes de hospitais do país com o controle dividido em partes iguais. Chamada de Ímpar, a rede conta com 25 hospitais e 4,4 mil leitos. Em 2023, a receita líquida combinada das operações envolvidas na transação foi de R$9,9 bilhões.
A Dasa entrou no negócio com 14 hospitais. Deixou de fora o Hospital São Domingos, em São Luís (MA), o Hospital da Bahia e a rede de clínicas oncológicas AMO, em Salvador. Desde então tem procurado compradores para as unidades.
Há dois meses, numa ofício enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Dasa confirmou as tratativas para a venda das unidades e disse que essa operação é vital: “Um eventual desinvestimento da Dasa nas operações do Hospital São Domingos, Hospital da Bahia e clínicas AMO, dentre outras iniciativas, são passos decisivos da Companhia na redução do seu endividamento e melhoria de sua rentabilidade”, afirma a companhia.
Ainda no ofício, a Dasa diz que, após divulgar sua intenção de eventualmente desinvestir das operações, foram recebidas manifestações de diversos interessados, mas, até o momento, somente há negociações em curso referentes à potencial venda do imóvel que faz parte das operações do Hospital São Domingos atrelada à locação de longo prazo (sale and leaseback).
Desconforto
A especulação tem gerado desconforto na diretoria do HB. Segundo uma fonte ligada ao hospital, em mensagem encaminhada aos médicos, nesta quinta-feira, um diretor afirmou que as “notícias especulativas e fantasiosas continuam, agora falando-se em negociação para venda, quando ontem (quarta-feira) era o fechamento do hospital”.
Disse ainda que, o único fato verídico publicado, até o momento, é que o Hospital da Bahia não faz mais parte da rede credenciada para atendimentos na unidade de emergência destinada aos beneficiários do Planserv e que toda essa especulação é fruto dessa nova realidade. Pediu que os médios sigam focados nos processos e no cuidado aos pacientes.
Outra fonte ouvida pelo BA DE VALOR sugeriu que as notícias são uma “retaliação” do Planserv ou “campanha” de concorrentes preocupados com o fortalecimento do Hospital da Bahia. Esta mesma fonte disse que o Hospital da Bahia está bem, superavitário e investindo na abertura de novos leitos para atender beneficiários de planos como Bradesco, Petrobras e Cassi, que são mais rentáveis para a unidade hospitalar.
Afirmou ainda que Dasa gostaria de vender o hospital, no entanto, puxou o freio de mão. Contrariando a lógica do que vem sendo noticiado nos últimos dias, acrecentou essa mesma fonte, o que está acontecendo é que a Dasa está tentando se reestruturar e reposicionar o Hospital da Bahia.
Rede D’Or
A notícia de que o Hospital da Bahia está sendo comprado pela Rede D’Or foi publicada pelo jornal Correio na manhã de quinta-feira. Nesta sexta-feira, a Rede D’Or negou a negociação em uma nota curta. “Não procede a informação acerca da aquisição do Hospital da Bahia pelo grupo”.
A Rede D’Or tem 70 hospitais no país e 11.700 leitos. Fechou o exercício do ano passado com uma receita líquida de R$47 bilhões. É um colosso, com altas cifras em caixa, para comprar o Hospital da Bahia e outras tantas unidades de saúde. O grupo já possui uma robusta presença na Bahia, com unidades como o Aliança, São Rafael, Cárdio Pulmonar, Aeroporto e Santa Emília (Feira de Santana).
O fato é que especulação e a precipitação em dar notícias, muitas vezes sem a devida apuração, pode ser nociva ao mercado e ao ecossistema médico e de saúde. Vamos continuar acompanhando os desdobramentos dessa história, sempre com o compromisso com a verdade.